segunda-feira, 13 de abril de 2009

No Ministério das Almas Perdidas

A tempestade veio como um açoite de aço
Caiu como uma tormenta sobre minha alma perdida
O uivo e o trovão agitaram os mares do meu coração
A onda tenebrosa e colossal que tragava toda esperança
Era a revolta de um deus poderoso e vingativo
Navegava astronauta solitário em um mar de estrelas
Mar a dentro e além na procura por uma praia de águas mornas


Mas o abismo da vastidão rompeu as âncoras e me levou para as profundezas
No ministério das almas perdidas despertei sobre o lado claro da lua
E descortinei um véu mais escuro e profundo que toda falta de luz
Algo turvo. Luto. Preto. Negro. Noturno. Onde o absurdo era lúcido
Caminhei para além dos horizontes verticais que outrora contemplava
Adeus amada criança que nasce sem a pureza de um novo dia
Porque lambuzamos os dedos e lambemos os lábios da boca que amargava


Encontrei o set de controle do sol e arranhei a face do meu criador
Fui banido para os confins do além onde as estrelas são estranhas
Encontrei a redenção de uma boca que proferiu a beleza e o horror
Jurei pela luz dos teus olhos que não te abandonaria jamais
Estende agora a tua mão para o além e proclama a verdade que você esconde
Além da vida e do impossível que se converte em palavras que só eu sei ler
Há uma razão na loucura e na loucura a razão do que não se pode ver


Deserto de pedras por onde meus antepassados caminharam
Vago agora distante como eremita para me perder e te encontrar
Contemplo a torre que risca o céu como Babel não pode imaginar
Escalei as escadas para alcançar a porta do infinito onde o oráculo aguarda
Soube fazer frente aos mais profundos medos para aprender a cair e recomeçar
Quando pensei que não... descobri que sim
Quando me julguei sábio... comecei a errar


No oitavo ano percebi das alturas um mundo pequenino
O palácio das estrelas resplandecia no céu da minha boca que cantava para o vácuo
Lentamente a última sonda da aventura humana atravessou o espaço
Como um pequeno príncipe lacei o cometa para alcançar a porta do juízo
Eis que o senhor tratou de me ensinar que a estrada existe para ser trilhada
Caí por dias incontáveis até ser recebido pela terra com o conforto do aço
Vi a tua beleza ser levada pelos anos enquanto sonhava e esperava ser amada


Das alturas veio a risada de um oráculo louco que sempre me aguardava
Você realmente pensa que preciso de você para dormir em paz?
Calcei novamente o primeiro de muitos degraus pelos anos de uma lúcida loucura
E a ternura foi a chave de toda porta fechada pelas correntes da arrogância
A paciência foi o relógio que lutou lentamente contra o teu orgulho
O silêncio foi a palavra usada contra teu discurso venenoso e insensato
O amor foi escudo para todas as coisas que não fiz questão de defender


Ao fim de uma eternidade alcancei o último degrau e a casa do oráculo
O fim de um caminho e de uma vida que esgotei por me demorar em escolhas
Recebi a chave para a última porta que me atravessava o coração
No ministério das almas perdidas eu me encontrei e aprendi o que não posso contar
Espero que você entenda... não sou o mesmo pois sou único a cada dia
Ontem fui outro por não ser o mesmo que hoje se levanta
Acontece que me visto com a mesma pele... e com uma nova esperança

2 comentários:

  1. "Jurei pela luz dos teus olhos que não te abandonaria jamais"
    "Acontece que me visto com a mesma pele... e com uma nova esperança"

    Gostei das frases acima. =)
    Sempre muito bons os textos.

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  2. Vc escreve textos jornalísticos que nem escreve os poéticos?

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