sábado, 28 de março de 2009

Se Você Apenas Sorrir...

Ele corria pela rua brincando na chuva.
Subia no banco da praça e pensava em voar.
Abria os braços. Sorria sozinho. A vida parecia ser tão simples.
Tão fascinante. Logo tudo mais seria um borrão de lembranças.
Sem escola. Sem desenhos. Sem amigos. Sem família. Sem infância.
Sozinho na rua sobre uma folha de papelão.
A roupa um trapo. Os pés descalços.
E eu aqui do outro lado da rua. Olhava sem você perceber.
Aqui na outra ponta do mundo. Sentia que poderia ser você.
Segui o me caminho. Olhei para trás e vi você me acenar.
Nunca soube o seu nome... mas obrigado... obrigado por me ensinar.

quarta-feira, 25 de março de 2009

No Inverno das Folhas Mortas

Quando o sol repousou, quando as estrelas se mostraram, ele sentiu imensa solidão. Uma angústia lhe tomou por inteiro, um vazio lhe devorou. E saiu lá fora para caminhar e procurar, tentar encontrar dentro de si o que existia outrora. Parecia distante e tão próximo de tudo que já passou e ainda não veio.

Chegaram então os dias em que ele se sentou para pensar e refletir. Sua língua estava presa, as mãos amarradas, as palavras embaralhadas, a vida desaparecia por inteira... a escuridão mais uma vez lhe encheu de temor.

Quando a porta se fechou e a televisão se transformou num abajur de recortes iluminados, ele se viu sozinho e perdido. Entre um suspiro e outro procurava palavras seguras e fortes. Palavras capazes de lhe dar um pouco de conforto. Como uma dose de carinho ou um retoque em seu sorriso. Queria ele saber agora o que poderia fazer.

Então ele ouviu uma voz distante. Sentiu uma mão lhe acariciar com espinhos. Doces palavras embaladas e enfeitadas pelas vírgulas das línguas bifurcadas e venenosas. Logo tudo se converteu. Logo ele veria onde seu espírito se perdeu. Ele adormeceu no inverno das folhas mortas. Lá onde se pode ver a sombra do silêncio.

Ele nunca disse nada. Nenhuma e nem uma palavra sobre as feridas dilaceradas. Ele estava pronto para se revelar e se reencontrar. Deveria agora por os pés na estrada para continuar o que nunca deveria terminar...

terça-feira, 24 de março de 2009

Certas Coisas

Existe uma estranha sensação em cada amanhecer
Olho pra frente sem perceber
O laço forte nem sempre é o da forca
Nem toda fome é de comida pouca

Nem imaginei quando abri os olhos
Que a verdade é um sentimento sem culpa
Não amarga nem envelhece
Não se omite nem se esquece

Impor a vontade e o desejo
Tomar nas mãos sem mais esperar
Olhar dentro desses olhos
Sentir, em cada passo, a vontade de caminhar

Nada é certo quando se espera
Aceitar o tempo é desistir um pouco
Fazer é tão importante quanto pensar
Já andei só sem sair do lugar

Existe uma estranha sensação em cada entardecer
Desfaço-me um pouco de tudo que já fui
Percebo que é tão bom quanto imaginei
De mãos dadas sou mais do que eu sei

Agora só eu e você
Distantes de tudo que separa
Em cada beijo a certeza e um sussurro
Finalmente chegamos ao porto seguro

Em cada anoitecer uma estranha certeza
A solidão já abandonou nossos corações
Já alimentou, no passado recente, a idéia do orgulho
Hoje, mais calmos e cheios de paz, somos o esperado futuro

Sentir a vida pulsar em cada veia
Transbordando pelos olhos
O brilho de um novo dia que acabou de chegar
A certeza existe pra quem quer acreditar

É possível… é possível amar!

sábado, 21 de março de 2009

Fogo

Corre como uma ventania. Feroz como o mar. Doce como o teu semblante. Ao te ver de olhos fechados eu me revelei. Na sutileza das mãos que se tocaram eu vi o fogo. Eu me atirei contra as rochas da minha compreensão. Estrelas prateadas riscaram o céu de uma tempestade. Amarrado ao navio para ouvir o teu canto e não ser levado para as profundezas deste oceano. Algo se libertou na fúria e na serenidade. E sobre a planície correram cavalos selvagens. O fogo alastrou o desejo que ardia por dentro. Renasceu um sol de lembranças. A crista de uma labareda iluminou as praias dos meus lábios. Num mergulho em busca de ar. Na vastidão do que não foi dito. Na procura por um segundo a mais. Respiro o doce perfume do fogo.

terça-feira, 17 de março de 2009

No Silêncio do Mundo

Veio ela silenciosa
Veio o véu da noite me cobrir de estrelas
Vejo a vertigem se abater em sonhos guardados
Vem o véu da noite revelar lembranças e saudades
No escuro que abriga um corpo deitado
E o véu leva a leve sensação de um abraço
E o laço ainda é um elo de suspiros
No meio do nada ressalta um fio de esperança
E cala e me fala e toca e retoca as feridas que a faca tece
As paralelas se tocam e o corpo adormece

Amanhece e tudo se torna importante e necessário
Embriago o tempo com falsas verdades
Superfície superficial que salienta seriedade
Que bom seria se suprisse a senhora das verdades
Que quando a noite cai me transforma por completo
Torno-me astronauta a vagar perdido no espaço dos pensamentos
Vaga lembrança de um dia feliz ao lado da outra parte
Verdade é verdade não existe metade
Compartilha a cama ao lado do eu como que deitado em um espelho
Sozinho me completo e encontro você retida na metade de um terço

Vejo o leito da noite silenciosa
Derramo as lágrimas guardadas para ti
Seria outro rosto parado diante de mim
Assim eu pronuncio teu nome em pensamentos contidos
Olho pra dentro esperando ver o teu sorriso
No silencio do mundo eu ouço a tua voz a suspirar silêncios
O perfume corre e escorre pelo corpo encoberto
Resta esperar que amanhã eu te encontre mais uma vez
Resta acreditar em um sonho que te fez
Espero e acredito nesse beijo, nesse leito, nesse meu infinito desejo

quarta-feira, 11 de março de 2009

Karyne

ela coloriu os olhos
pintou a boca
sorriu pro espelho
saiu pela noite
contemplou as estrelas
sentiu o frio e a brisa
estava na hora marcada
no banco sentada
o tempo rastejava
a vida amargava
e o salto apertava
nada de ninguém
ninguém nem nada
nem ele nem bilhete
nem mensagem de que se atrasa
ela muito triste
não se conformava
nem sorria nem chorava
sentia a cara amassada
o vestindo amarrotado
a frustração que irritava
resolveu não ficar
resolveu não ligar
mal conhecia o cara
"mas que otária!!!"
pensava
sabia que não era assim
mas a frustração amargava
foi embora toda cabisbaixa
e chegou na rua de casa
abriu a porta e entrou
tomou um susto
quase infartou
era ele ja sorrindo
com um buquê e um vinho
ela sem entender disse quase caindo
"mas o que é isso?"
ele se aproximou e ja foi sorrindo
"se você ficasse... se você soubesse...
a surpresa não seria tudo isso..."

domingo, 8 de março de 2009

A Resposta Mora Dentro de Você

Não se pode pedir ao sol… mais sol
Não se pode pedir a chuva… mais chuva

O tempo não é uma roda que se leva para frente ou para trás
Não se vive duas vezes… na vida não existe ensaio
Uma vez perdido o momento… não se recupera

Não se empurra uma carroça para os lados
Não se chega a uma resposta sem antes perceber a dúvida

Errar é aprender por onde não se deve ir
Errar duas vezes é ignorar avisos…
Não se erra três vezes… antes de se perder no vazio dos anos

Não se escolhe um amor… ele escolhe você
Não escolha o que não se pode ter… mas o que por direito se deve sonhar

Ficar encostada na estrada da vida é morrer sem perceber
Uma jaula sem grades… felicidade enfeitada
Na verdade… este é o terceiro erro

Não se aprende a levantar sem antes cair
Mas até uma criança aprende com a primeira queda

Não se brinca com a vida
Não é possível viver a mentira

Quando alguém demora a responder… não sabe muito bem a resposta
Espera que a felicidade seja o destino
Quando na verdade ela deveria ser o próprio caminho

Nenhum conselho é melhor do que o que você sente

Olhe ao redor… A resposta mora dentro de você.

terça-feira, 3 de março de 2009

Estrada

(...)
Então parou de correr e começou a caminhar. Sentia seu corpo exausto. A respiração ofegante queimava e absolvia todos os seus pecados. Olhou para o céu e sentiu a liberdade soprar o seu rosto. Sentia-se livre. Pleno. Completo. Sabia que não havia pedra capaz de desviar o seu caminho. Não havia motivos para não deixar tudo para trás. Acelerou o passo e recomeçou a corrida. Em sua mente tantas lembranças. Em seu coração tanta confiança. Tanta saudade...

Tantas coisas agora lhe davam a certeza de que corria na direção certa. E todas as vezes que errou, que sofreu, que sorriu e chorou. Todas as pequenas lutas diárias eram vencidas e encerradas. Naquele momento tudo se desfazia e acabava. Depois de correr tudo se acalmava.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Desejos

Haveria uma maneira de te dizer
que desejo teus braços atados a mim
Haveria sim, uma oportunidade pra te ter
Deve ser o sabor do teu corpo
Deve ser o desejo de descobrir

Não há tempo para palavras
Não há nada entre os nadas que nos separam
Assim, distante de você, tudo fica mais claro
Assim, distante de você, tudo fica meio amargo
Hoje.. as palavras serão esquecidas e dispensadas

O perfume que banha teu corpo me devora
O sabor da tua boca me consome
Não quero disperdiçar esse momento
Calam-se as bocas das línguas que se tocam
Fala com o teu corpo o que desejo agora

Deve haver algo proibido entre nos
Quero a parte escondida entre os lençóis
Palavras e palavras podem não dizer nada
Maior é o que se revela…
…quando estamos à sos…

Desejo ínfimo que exala em mim
Em cada gesto em cada olhar
Já não há palavra que me diga
E que me satisfaça já…

Diante de Mim

Diante de mim, à beira de meus pés
Começa um caminho sem rumo certo
Se não for o certo vai acabar sem começar
Já olhei pelo retrovisor pra não ter que olhar pra trás
Já ensaiei as respostas pro que vão me perguntar

Tô sendo sincero com o mundo que não bajula
Arruma e bagunça, desfaz e refaz a cabeça de quem não se fez
Deveria ser você o seu próprio salvador
Se não for é bem certo de que não encontre ajuda

Atrás é o atroz caminho que ressoa pelos cantos dessa esfera
Um cículo de passos, atalhos e lutas
Um círculo sem curvas!

Após o infinito começa o fugaz
Começa um caminho sem rumo certo
Desfaz-se então, de repente, o que era eterno…

Abandono

Frio e amargo
Sozinho nos meus sonhos
Deveria estar aqui
Mas tudo que sinto é abandono

Lembranças de um sonho
Sombras do passado
Olhos vermelhos, sussurros de dor
Já não desejo ser quem eu sou

No silêncio do mundo fui esquecido
Ninguém pode ajudar… ninguém sabe onde estou
Chorei devagar, entre um soluço e outro
Chorei até secar, no abandono… me tornei louco

Por um Futuro Mais que Perfeito

Já me faltaram palavras
Faltaram folhas pra pensar
Rabisquei nos pensamentos
Rascunhei sem escrever
Certo de que sabia o que não deveria dizer

Já caminhei sem rumo certo
Certo do que não é eterno
Tendo um mapa em minhas mãos
Desenhado por um cego
O acaso me levou… e fui… sem saber ao certo

Já não sei por onde
Comecei ou terminei no mesmo ponto?
Conjuguei uma verdade sem verbo
Vivendo um presente pretérito
Na busca por um futuro mais-que-perfeito

O acaso me levou… e fui… sem saber ao certo

Paz

No alto da montanha encontrei uma cabana. Da janela pude ver um infinito verde sob a névoa da manhã. Ali encontrei um momento de paz. O tempo não corria, não escapava nem sumia, mas caminhava lento e paciente, deixando as gordas nuvens se tocarem.

Na pequena cabana eu pude sentir uma paz verdadeira. Pude ouvir o silêncio do mundo. A música que a natureza sussurrava. Então respirei. Tomei ar num mergulho profundo de imensa felicidade. Ali, naquele momento, fui capaz de perceber o que a vida realmente é.

O sol fechou seus olhos bem devagar. A noite veio sem me atormentar. O fogo queimava na lareira. Sentado em uma cadeira refiz toda minha vida enquanto olhava aquela mesma estrela. Então veio uma lágrima e um sorriso sincero. Senti aquele mesmo perfume. Ali, eu finalmente fui absolvido… e nada… absolutamente nada… poderia me abalar.

Serena

Ela veio até mim. Silenciosa e serena. Dona de si. Falou em meu ouvido. Sussurros roucos. Desarmado, embriagado, fiquei louco e surdo. Tudo era claro, entres corpos que se tocavam no escuro…

Fui devorado lentamente. Olhei nos olhos. Senti seu corpo próximo. Senti a vida pulsar em meu peito. Lembrei dias antigos. Lembrei que estou vivo. Respirei e transpirei. Fechei os meus olhos. Se um sonho era, queria continuar a dormir. Queria não acordar…

As horas não passavam. A noite era eterna e fugaz. Cada segundo era um suspiro. Nunca houve tamanho desejo entre beijos. No silêncio as línguas se entrelaçavam e se deliciavam com o sabor da boca. Percorri lentamente seu corpo. Banhei-me em seu perfume. Falei em seu ouvido. Beijei-lhe o pescoço… segurei-lhe as mãos…

Adormeci. O dia veio lentamente. A luz invadiu e nos flagrou. Desenhou o contorno do seu corpo, do seu rosto, cintilando entre seus longos cabelos. Serena despertou-me com um sussurro rouco. O sol não nos envergonhou. Ela sorriu e jogou seu corpo sobre o meu…

Não foi a noite uma ilusão. A vida não deveria ser de outra forma. Ela deveria ser despida de desculpas e desafetos. A vida é feita para ser boa. Ela deveria ser sempre… eterna… serena…